O ETERNO FEMININO DE DEUS NAS DIVERSAS CULTURAS E NO TEMPLO CORAÇÃO
Ao caminharmos num dia de sol, contemplamos a suave doçura do céu azul celeste com pequenas nuvens brancas esparsas. Tudo é harmônico, equilibrante, transmite-nos uma sensação de completude, liberdade, que nos faz querer voar, respirar, flutuar e enaltecer o Sol.
Com o girar de nosso planeta em sua trajetória, aquele céu visível vai nos deixando um Sol cada vez menos perceptível, que aos nossos olhos vai se recolhendo e, com isso, nosso céu vai mudando de cores até atingir a imensidade do azul noturno. Então vemos as milhares de estrelas, constelações, planetas vizinhos e o brilho de nosso Sol refletido pela romântica Lua. Nesse momento somos pequenos, curiosos, tocados pelo mistério do Grande Arquiteto que nos acolhe com a poesia de sua criação e nos sentimos envolvidos pelo infinito cobertor de estrelas de nossa Mãe Celeste.
Nas diversas culturas da humanidade sempre existiu a imagem arquetípica da Mãe Celeste ou de Deus-Mãe. Eram as virgens, Marias, deusas, madonas, vestais, sagradas deidades brancas, negras, índias, orientais, sábias, guerreiras, curandeiras, grávidas ou parideiras, educadoras, doadoras, artistas.
Suas roupas são lindas… nos lembram da proteção e beleza materna: mantos azuis e brancos véus como o céu com nuvens da manhã, ou mantos azul-noturno com estrelas douradas sob uma Lua prateada. Adornadas de fitas coloridas, imitando o arco-íris, coroas, guirlandas ou com um círculo de estrelas sobre suas cabeças.
O que fazem essas Mater-Dei nos dá segurança e esperança: descalças ou com humildes sandálias, pisam sobre serpentes, dragões e monstros. Outras vezes, com suas mãos delicadas, ora seguram seu Filho Adorado nos braços, ora abrem seguramente a boca de um leão, ora seus próprios sagrados seios indicando estar sempre pronta a alimentar seu Filho.
E como nos protegem e cuidam: carregam cetros, vasos de água transbordante infinitamente renovável, chamas, crucifixos, livros sagrados, balanças, cálices, espadas, caniços, escudos, clavas, foices, cestos de frutos, flores como lírios, rosas ou lótus, ramos ou brotos de arroz, trigo, oliva, videira, pinho, “ovos” entre outros.
Onde e como aparecem sempre denotam nosso objetivo como alma-filha: assomam-se nos céus, mares, florestas, cavernas, montanhas, vulcões, ventanias e tempestades. Seu coração dolorido vezes está guardado com suas suaves mãos, outras vezes emana intensos raios de Luz e noutras está flechado. Lembremos ainda de suas representações aladas, com chifres ou acompanhadas de pombas, falcões, cisnes e pássaros brancos, cervos, ursos, vacas e bezerros, como pode-se ver na seguinte passagem dos Vedas:
“A Vaca dançou sobre o oceano celeste trazendo-nos os versos e as melodias
A vaca tem por arma o sacrifício e do sacrifício surgiu a inteligência
A Vaca é tudo que existe, Deus e Homens, Asuras, Manus e Profetas.
Nela reside a Ordem divina, a Santidade, o Ardor cósmico.
Sim, a Vaca faz viver os Deuses, a Vaca faz viver os homens.”
Em verdade, todas carregam o profundo significado do Eterno Feminino de Deus. Ela é a Shakti Hindu, a Kundalini divinal, o Verbo em seu aspecto feminino universal, Deus-Mãe, Mãe-Deus, Anima Mundi de Platão, Urânia-Vênus, a adorável Isis, a casta Diana, matriz universal, ela é a esposa do Terceiro Logos, Ishtar dos Babilônicos. Possui 5 aspectos (Mãe Imanifestada, Mãe do Mundo, Mãe Morte, Mãe Natura Individual e Maga Elemental).
Entre os sumérios era Ninhursag, Senhora da Montanha Sagrada. Recebeu vários nomes ao longo da história mesopotâmica, cujos significados foram: Grande Rainha, Senhora do Nascimento, Senhora da Vida, Mãe, Senhora do Embrião, Senhora Modeladora, Carpinteira de Interiores, Senhora Vulva, Senhora do Silêncio, Mãe que estende os joelhos, Mãe que Dá à Luz, Esposa dos Deuses, Senhora do Diadema.
Desde as civilizações pagãs em que era Gadesh (sagrada) à pré-histórica Cibele dos frígios e romanos, mesma deusa Reia dos gregos, às mãezinhas egípcias Hathor, Nut e Isis, à Amaterasu do Japão e Parvati da Índia, à Theotokos dos russos e Tonatzin dos astecas, consolidou-se um grande panteão de Deusas-Mães.
A Divina e doce Maria de Nazaré, aquela que é venerada mundialmente no cristianismo como mãe do Rabi da Galileia, mãe do Salvador Salvandus, exerceu a honrada missão de representar à toda humanidade o Sagrado Feminino, o divino Sacerdócio da Natureza de ser mãe e, principalmente, o despertar para o Eterno Feminino de Deus. E foi ela, como Filha da Luz, designada pela Divindade para ser a Mãe do Divino Redentor do Mundo. E por isso, sua veneração em todo o cristianismo é tão presente em todo o planeta seja em igrejas, formas de culto, litanias e artes. Recebeu diferentes invocações que deram origem, em muitos casos, a nomes próprios femininos compostos como Maria do Carmo, Maria do Socorro, Maria das Dores, Maria de Lourdes, Maria das Graças, Maria Stela , Maria de Fátima, Maria da Conceição, Maria Auxiliadora, Maria Mercedes, Maria dos Remédios, Maria Clara, Maria Luíza, Maria Alice, Maria Laura, Maria Tereza, Maria do Céu, Maria Elisa e tantas outras. Mas, como bem disse uma vez Samael Aun Weor em seu livro A Virgem do Carmo, “…nem a pena de Michelangelo, nem a Madona de Leonardo Da Vinci conseguiram nos traduzir de forma fiel a imagem da Virgem Maria. (…) Não é Maria aquela beldade inesquecível que desde crianças contemplamos sobre os suntuosos altares de nossas igrejas paroquiais, cujos sinos metálicos alegram os mercados de nossas paróquias. Ante nossos sentidos espirituais somente vemos uma virgem morena queimada pelo sol do deserto. Ante a vista do espírito desaparecem por completo todas as fantasias para aparecer em seu lugar uma humilde pródiga, uma humilde mulher de carne e osso.”
A obra vocal do alemão Johann Sebastian Bach, o Magnificat, consiste num cântico de Maria oriundo do Evangelho segundo Lucas (Lucas 1:46-55). Tal oração da passagem bíblica é recitada pela Virgem Maria na ocasião da Visitação de sua prima Isabel. No contexto histórico, após Maria saudar Isabel, que está grávida com aquele que será conhecido como João Batista, a criança se mexe dentro do útero de Isabel. Quando esta louva Maria por sua fé, Maria entoa o Magnificat como resposta. Eis uma parte da tradução da adaptação de J. S. Bach:
“Engrandece a minha alma ao Senhor.
E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque atentou na humildade da sua serva;
Pois eis que, desde agora,
Chamar-me-ão bem-aventurada todas as gerações.
Porque me fez grandes coisas o Poderoso; e Santo é o seu nome.”
Espelhando-se na máxima mágica hermética da Tabula Smaragdina “Quod est inferius est sicut quod est superius, et quod est superius est sicut quod est inferius, ad perpetranda miracula rei unius.” Que significa “O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.”, o Eterno feminino resplandece desde o imenso céu infinito até toda vida infinitesimal, dentro do átomo, dos íons, dos elétrons e prótons e todo ser humano possui dentro de Si sua própria manifestação, como bem retratado no belo poema e oração de Samael Aun Weor, Filho querido de Marte:
“Ó Mãe adorável! Tu manifestastes o prana, a eletricidade, a força, o magnetismo, a coesão e a gravitação neste universo.
Tu és a divina energia cósmica, oculta na ignotas profundidades de cada criatura.”
Por compreender o Eterno Feminino dentro de si mesmo e render culto a Ela, Samael Aun Weor e todas as grandes almas que despertaram a Consciência reconheceram em cada mulher o princípio feminino universal. Novamente, nas palavras do grande gnóstico de Aquário:
“Se Deus resplandece através das ‘Cleópatras’ da Ilha Elefantina, que se Deus resplandece através das ‘Vestais’ do Egito, da Pérsia, da Grécia, de Roma e de Siracusa, também resplandece gloriosamente através das mulheres de cada tempo e de cada época e através da mãe que acalenta o filho em seus braços… Assim, em nome da verdade, tenho que dizer que a mulher tem os mesmos direitos que o homem. O homem nunca é mais que a mulher, ainda que pretenda ser.” Por isso, assim como todo homem, cada mulher precisa também tomar Consciência de seu papel e do papel de suas irmãs, filhas, mães, avós, amigas, representantes e tantas outras relações possíveis em sua vida, de modo a encontrar em todas elas o vivo reflexo de sua Mãe Divina particular.
Que ao contemplarmos os céus do dia e da noite, que ao pisarmos num templo religioso ou da natureza, que ao vermos uma mulher criança ou idosa, parente ou desconhecida, vejamos por trás dela a beleza da criação nos convidando a todo instante a adorarmos nossa Mãe Divina Particular que tudo faz por nós. E que a Grande Mãe nos abra a compreensão e nos ajude no grande trabalho de vencermos a nós mesmos para que aprendamos a verdadeiramente e conscientemente amar, alcançando a Autorrealização Íntima do Ser!
Este é o verdadeiro parto celestial da Virgem-Mãe de todos !!!
Alessandra Espineli Sant’Anna é mãe, engenheira e instrutora gnóstica