Hildegard Von Bingen – A Abadessa-Gênio do século XII
Século XII, idade das trevas, Alemanha, o poder repressor da Igreja pairava como uma negra nuvem. Mulheres eram consideradas seres inspirados pelo demônio. Reis e nobres oprimiam o povo e a Europa vivia em guerras e doenças, as cidades eram imundas. A compra de títulos eclesiásticos era comum, mesmo entre pessoas sem a menor vocação religiosa. As pessoas viviam na miséria e morriam aos 30 anos. Uma era onde a visão de Deus era terrível, carregada de atributos inflexíveis e de inacessível majestade, de ira vingativa aos pecadores e “amor” aos “filhos diletos”.
Mas houve uma Luz Feminina em meio a esta horrível época da história.
Hildegard Von Bingen viveu às margens do rio Reno, onde construiu e fundou seu próprio Convento, para instruir e proteger suas noviças do machismo da época. Porém sabia distinguir a natureza humana de alguns da herança divina do casal: exaltava em suas obras a beleza do amor entre homem e mulher.
De saúde frágil devido aos intensos esforços na luta pela liberdade do Convento e pelas grandes cargas emocionais e espirituais em seus êxtases, os longos períodos de febre e de cama contrastam com a grande produtividade e a qualidade genial de seus trabalhos. Como Francisco de Assis e Catarina de Siena, o corpo aparentemente frágil de Hildegard abrigava uma gigante espiritual da humanidade.
Filósofa da vida e da natureza da Divindade expressa no ser humano, unia lógica e estética com um tempero metafísico incomparável, sempre harmonizados pela dialética escolástica.
Abadessa habilidosa, colocou a arte e a medicina como ensinamento a suas aprendizes, conquistando a independência de seu convento de uma Abadia maior, dirigida pelo machismo da época.
Médica fitoterapeuta famosa, com fórmulas obtidas pela profunda intuição que tinha ao meditar na natureza enquanto estudava a botânica oculta dos vegetais. Produzia suas pomadas, tinturas e óleos essenciais cantando para a divindade de cada planta, fórmulas maravilhosas até hoje utilizadas. Os cristais eram usados de forma constante para tratar várias doenças.
Sua mais bela obra no campo da Medicina é o Liber subtilitatum diversarum naturarum creaturarum, ou Livro das propriedades – ou sutilezas – das várias criaturas da natureza, dividido em Physica – Liber simplices medicinae, ou Física – Livro da medicina simples, e Causae et curae – Liber compositae medicinae, ou Causas e curas – Livro da medicina complexa, onde expõe de maneira belíssima as diversas práticas terapêuticas que utilizava. Pelo seu conteúdo infere-se que tinha profundo conhecimento da medicina de Galeno, Hipócrates, assim como de grandes naturistas como Plinio, o velho, e das práticas avançadas dos médicos árabes.
Escritora prolífica, ditava suas visões, êxtases e revelações a seu fiel e dedicado companheiro Wolmar, ilustrando de próprio punho suas obras, mostrando em cores vivas e contornos perfeitos desde a anatomia da sagrada sexualidade até as divinas energias que lhe vinham do alto. Nessa linha citamos sua trilogia: Liber Scivias Domini – Livro dos caminhos do Senhor onde fala sobre o Reino dos Céus, A Redenção e a Trindade; Liber Vitae Meritorum – Livro dos méritos da Vida, um Tratado de Ética, e o Liber Divinorum Operum – Livro das Obras Divinas, onde descreve um Painel de Toda Criação Divina.
Compositora e musicista talentosa dizia que “…a música de júbilo suaviza os corações endurecidos…” e assim compôs obras e coros que exaltam a divindade e que são entoados até hoje nas igrejas e conservatórios no mundo todo. Usava a música para curar seus pacientes, sendo uma das primeiras musicoterapeutas com metodologia estruturada. Em suas obras insere técnicas especiais no contexto do canto gregoriano, que são o Ordo Virtutum – A Ordem das Virtudes e a Symphonia Armonie Celestium Revelationum – Sinfonia da Harmonia das Revelações Celestes, além de uma coletânea de 77 canções de uso litúrgico.
Profetisa famosa, previa acontecimentos importantes para todo o império e para a Igreja, sendo orientadora frequente de nobres, imperadores e papas. Por esta habilidade foi chamada de a “Sibila do Reino”, em referência às sacerdotisas oraculares da antiga Grécia.
Algumas frases da Sibila do Reno:
Oh figura feminina, quão gloriosa és !
O Coração é o auditório da Alma, onde o Espírito vem tocar seus Acordes…
Pobre alma, filha de tantas misérias…entretanto te invade o fluxo celestial dos mistérios de Deus…
Deus se resiste aos soberbos e dá sua graça aos humildes.
Pela sua metodologia de pesquisa, registro e repetição empírica, é considerada a primeira cientista após o declínio de Alexandria, dez séculos antes. Uma abadessa alemã dos anos 1.100, a Primeira Cientista Ocidental… Incrível!
Com longos e profundos escritos sobre teologia e a natureza divina, foi declarada doutora em teologia da Igreja. Umas das 4 grandes mulheres reconhecidas pela Igreja Romana, ao lado de Tereza D´Ávila, Catarina de Siena e Terezinha do Menino Jesus.
Seus medicamentos são utilizados até hoje, suas músicas continuam sendo sucesso, seus enigmáticos desenhos desafiam médicos, estudiosos de bioenergia humana e místicos de todas as linhas filosóficas e religiosas.
Hildegard foi uma visionária e um gênio da humanidade. Uma das mulheres mais produtivas e com um legado que até hoje nos impressiona, 900 anos depois.
Sua entrega aos pobres, vulneráveis e doentes enche os olhos de qualquer alma misericordiosa.
Viva o Eterno Feminino de Deus!
Viva o Serviço pela Humanidade encarnado na Alemanha nesta mulher genial pouco conhecida, Hildegard de Bingen !
Heloisa Pereira Menezes
Nutricionista, Especialista em Logística, Instrutora de Gnose e diretora da Associação Gnóstica de Fortaleza